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O“estalo” na estrutura do edifício Wing, de 28 andares, nove meses após a queda do Real Class, de 34 andares, que matou três pessoas, deixou os habitantes de Belém assustados. As duas situações remetem a outros incidentes e tragédias, como o desabamento do edifício Raimundo Farias, em 1987, que provocou a morte de 39 operários; a falha de fundação do edifício Godoy, provocando a inclinação do empreendimento, no final da década de 1980; e pequenos tremores que assustaram moradores dos andares mais altos de prédios. Diante desses fatos, muitos se questionam quanto à segurança das construções em Belém, cada vez mais altas e erguidas em curto espaço de tempo.
O LIBERAL procurou dois engenheiros civis para saber se a tecnologia existente hoje é suficiente para manter grandes torres erguidas, ante as características geológicas e climáticas da cidade. Os dois garantiram a segurança dos empreendimentos construídos em Belém. “As construções, se seguirem todas as normas, não oferecem nenhum risco. Vamos lembrar o Manoel Pinto da Silva, feito na década de 50 e que, na época, foi um dos maiores edifícios do Brasil. Está lá. Nós temos prédios que estão completando 50 anos. Que eu saiba, todos eles em condições seguras de serem habitados”, declarou Nagib Charone, engenheiro civil e professor da Universidade Federal do Pará.
De acordo com ele, as características do solo não fazem diferença. “Com a tecnologia de fundação, a gente não pode falar em uma área mais perigosa que outra. Os coeficientes de segurança, tanto nos projetos de fundação como nos projetos de cálculo de estrutura, são iguais em todas as situações. O Raimundo Farias estava na Doca. Lá, tinha uma camada de argila orgânica com, mais ou menos, uns dez metros de profundidade. Porém, a fundação, estava apoiada na camada de areia a 14 metros de profundidade. E para desmistificar isso, o Real Class estava em cima de um terreno de primeiríssima qualidade. A sondagem geológica feita lá foi até 40 metros de profundidade e não encontrou argila orgânica”, observou.
Vento - A velocidade do vento também não oferece grandes riscos na capital, afirma o engenheiro. “Uma das grandes acusações que se faz ao calculista do Real Class (Raimundo Lobato da Silva) é que ele não teria levado em consideração o efeito do vento. Na realidade, lá no Real Class, no meu entender, o vento foi só a gota d’água. Acredito que o prédio iria tombar de qualquer maneira”, diz Charone. “Quero dizer que 80% dos prédios em Belém, na realidade, não foram tomados com essa carga de vento tão
violenta que a gente tem colocado hoje. Hoje, os prédios devem ser calculados com pressão de vento de 120km/h, quando, na realidade, o maior vento que a gente tem registro é na ordem de 60km/h. O (furacão) Katrina
passou por Nova Orleans (nos Estados Unidos) com velocidade de 320 km/h, mais do que corre um carro de Fórmula 1. A gente viu voar telhado, árvore, casa de madeira, mas não conheço nenhuma casa de concreto que tenha caído, nenhum edifício. Toda a região do Caribe é assolada por uma temporada de furacões, um a cada duas semanas, e a gente não tem
conhecimento de ter caído algum prédio por pressão do vento”, acrescentou.
O engenheiro explica ainda que, de modo geral, os edifícios de concreto são projetados para durar cerca de 120 anos. “Eles podem durar muito mais
que isso. Mas o concreto armado foi inventado em 1880, então, na realidade, tem um pouco mais de 120 anos e a gente encontra pontes de concreto
armado executadas pelo inventor que estão com 120 anos e continuam lá. Por essa razão que a gente diz que os prédios são projetados para durar esse
prazo. Porque a gente não sabe o comportamento do concreto depois desse tempo. Na realidade, a gente sabe que a resistência do concreto continua
crescendo”, observa.
Em 2007, algumas pessoas que vivem nos últimos andares de prédios mais altos de Belém se assustaram por um pequeno tremor, por causa de um terremoto na ilha Martinica, no Caribe. “Pequenos tremores, como quando a gente pegou um resto de uma onda sísmica na Martinica, não causam dano às estruturas. Se tivermos um tremor maior é impossível dizer o que vai acontecer, porque o terremoto é disparado o pior flagelo da face da terra”, enfatizou.
Vistoria - Alexandre de Moraes Ferreira, engenheiro civil, arquiteto, engenheiro de Segurança do Trabalho e coordenador da Câmara Especializada de Engenharia Civil, Segurança do Trabalho, Geologia e Minas
do CREA/PA, diz que acredita na segurança dos empreendimentos erguidos na capital. O ritmo acelerado com que alguns prédios são construídos, de acordo com Alexandre Ferreira, está coerente com a tecnologia usada nessas obras. “A maioria das construções de Belém são do tipo ‘convencional’,
regidas por normas brasileiras, que na engenharia são as “leis” que orientam as
especificações, cálculos, planejamento e execução das construções”, explica.
Ferreira informa que a Associação Brasileira de Normas Técnicas (ABNT) indica a velocidade básica dos ventos em cada região do Brasil, levando
em consideração fatores de forma para avaliar a velocidade incidente na edificação. “O vento atribuído ao dia do desabamento do Real Class, caso fosse com tal intensidade, causaria derrubada de árvores, destelhamentos, e
desabamento de outras edificações”, completou.
Ferreira recomenda aos proprietários de imóveis vistoria completa da edificação, “anotando e até fotografando detalhes, que se apresentem visivelmente em não conformidade”, na presença de um representante
da construtora. “A reclamação de não conformidade deve ser feita preferencialmente, na vistoria. O proprietário deve exigir da empresa construtora um manual do imóvel (previsto pelo Código de Defesa do Consumidor), também chamado de manual do proprietário. Nele, deve constar de maneira completa as especificações de materiais, projetos e indicação
de uso e manutenção das instalações”, orienta.